domingo, 5 de maio de 2019

DIA DA MÃE

O Dia da Mãe é assinalado hoje, um domingo soalheiro e tão propício à feliz homenagem que, anualmente, se faz a todas as mães!

fonte: http://twixar.me/j8Jn

Para comemorar esta data, a Biblioteca Escolar selecionou o extraordinário poema intitulado "Mãezinha", de António Gedeão, que podes ver/ouvir aqui (declamado por Vítor D'Andrade) e que abaixo se transcreve:


Mãezinha

A terra de meu pai era pequena
e os transportes difíceis.
Não havia comboios, nem automóvei, nem aviões, nem mísseis.
Corria branda a noite e a vida serena.

Segundo informação, concreta e exata,
dos boletins oficiais,
viviam lá na terra, a essa data
3023 mulheres, das quais
45 por cento eram de tenra idade,
chamando tenra idade
à que vai do berço até à puberdade.

28 por cento das restantes
eram senhoras, daquelas senhoras que só havia dantes.
Umas, viúvas, que nunca mais (oh! nunca mais!) tinham sequer sorrido
desde o dia da morte do estremoso marido;
outras, senhoras casadas, mães de filhos...
(De resto, as senhoras casadas,
pelas suas próprias condições,
não têm que ser consideradas
nestas considerações.)

Das outras, 10 por cento,
eram meninas casadorias, seriíssimas, discretas,
mas que por temperamento,
ou por outras razões mais ou menos secretas,
não se inclinavam para o casamento.

Além destas meninas
havia, salvo erro, 32,
que à meiga luz das horas vespertinas
se punham a bordar por detrás das cortinas
espreitando, de revés, quem passava nas ruas.

Dessas havia 9 que moravam
em prédios baixos como então havia,
um aqui, outro além, mas que todos ficavam
no troço habitual que o meu pai percorria,
tranquilamente no maior sossego, às horas em
que entrava e saía do emprego.

Dessas 9 excelentes raparigas
uma fugiu com o criado da lavoura;
5 morreram novas, de bexigas;
outra, que veio a ser grande senhora,
teve as suas fraquezas mas casou-se
e foi condessa por real mercê;
outra suicidou-se
não se sabe porquê.

A que sobeja
chama-se Rosinha.
Foi essa que o meu pai levou à igreja.
Foi a minha mãezinha.