Encontro com as palavras


Colunist@s ESMF

Antigamente, a crónica era um relato histórico ou uma narração de factos históricos redigida segundo uma ordem temporal. A palavra grega cronos significa tempo; em latim, a palavra chronica era relativa à narração de acontecimentos por ordem temporal (cronológica).
Partindo de um acontecimento da atualidade, ou não, a crónica moderna é uma apreciação crítica, um comentário ou uma narração, com um cariz pessoal.
Na semana de 28 de setembro a 2 de outubro, os nossos cronistas/colunistas do 9º ano registaram as suas apreciações pessoais. Cimentadas nos acontecimentos da semana (ou não) aqui ficam algumas dessas crónicas.

A professora,

Lurdes Martins


Crónicas 9ºano (1)


Oficina de escrita

Os alunos dos 2º e 3º CEB da escola dr. Manuel Fernandes, nas aulas de português produziram um conjunto de textos de Natal e... deram livre curso à imaginação em belos poemas e imaginaram as mais belas histórias de Natal…
Querem conhecê-los?
Então … venham daí ler o que têm para nos contar…





O amor 

O amor nasce
O amor enlouquece 
O amor cresce
O amor ilumina
O amor cega
O amor enraíza-se
O amor domina
O amor modifica
O amor magoa
O amor perdoa
O amor enfraquece
O amor acaba


Vazio

Não há muito que fazer
Não há muito em que pensar
Não há quem cuide
Não há que cuidar

Tudo é vão
Tudo é em vão
Tudo é nada 

Nada é como planeado
A vida é dura
Muitos partem
Poucos voltam
Poucos permanecem

Não há como sair 
Nada nunca é igual
Tudo muda
Não há um culpado
Todos são culpados 

A vida não é fácil
Ninguém o é
Família, amigos, amores
Todos partem

O silêncio rompe-se
De tempos a tempos 
Mas no final 
Todos somos condenados ao mesmo
Silêncio, solidão, vazio.




Vida vã

Tudo o que não foi dito por mim, por ti. Tudo o que nunca será dito. Todas as lembranças são agora apenas isso, lembranças. E em breve nada serão. As feridas um dia abertas passam a cicatrizes. Carne feia mas forte, jamais reaberta. Esquecimento. Todos estamos condenados a este mal, triste, vazio. Largar o que um dia foi impensável e agora questionada a sua veracidade. Gritos calados por um silêncio ensurdecedor que faz duvidar se este será melhor que o anterior barulho. Muito barulho. 
Muitas lembranças sempre de braços abertos para que mais sejam juntas. Uma espera constante. Enquanto há esperança há vida, dizem. 
Acabou a esperança. 
Acabou a vida.
                                              

Carolina Jacinto 12ºano



Humanidade

Não me faças humano,
Faz-me feliz…
Deixa-me longe da condição
Sem remorso do que não fiz…

Livremente longe,
Afastado da culpa,
Da morte e da miséria

Sem deus,
Inocente e imaculado
Sem a dor de ser abandonado

Porque te destróis?
Porque destróis o mundo?
Oh! Humanidade…
Nem que houvera mil sóis
Serias mais que algo mudo

                        Duarte Pombo nº 9 12º A





 SAUDADE


“Recordação suave e melancólica de uma pessoa ausente, local ou coisa distante, que se deseja voltar a ver ou a possuir”; esta é a definição de uma palavra única, bonita e dolorosa. Saudade.
Saudade. Saudade. Saudade. Repito esta palavra mentalmente todos os dias tentando habituar-me ao seu som, ao seu significado e àquilo que suscita em mim. Mas… por mais que a repita não consigo. Não me consigo habituar à dor, à felicidade, ao desejo, à tristeza a ela ligados. Não me consigo habituar a relembrar momentos que passei e que, agora, não consigo ter de volta. Não me consigo habituar ao vazio que ficou para trás. O vazio de algo que acabou. Não me consigo conformar de que as únicas coisas que esse momento deixou para trás foi um vazio mal preenchido com a memória e a saudade. Mas depois apercebo-me… Pode estar mal preenchido, mas isso é o que me lembra todos os dias de que aquilo que passei foi real, feliz e algo que valeu a pena!
            A memória e a saudade são indissociáveis e proporcionais. TEM de se ter memórias para que se sinta saudade! Senão, como seria possível ter-se saudade de algo que nunca experienciámos, de alguém que nunca conhecemos? Não é possível. Não pode acontecer.
Mas a memória não está unicamente na forma “intocável”, não está unicamente na nossa mente, na nossa “memória”! Pode ser algo “tocável”. Imagens, músicas, filmes, espaços ou até palavras. Tudo o que nos rodeia absorveu memórias, que só de ver, estar ou ouvir desperta sentimentos que querem ou não querem ser sentidos.
            Uma palavra que me marcou e magoou desde sempre foi esta: UNIVERSIDADE.
Lembro-me de um dia, quando tinha 11 anos, estar a jogar com a minha irmã, e então a minha mãe chega ao pé de nós e diz: “Rita, saíram as colocações para a universidade. Entraste nas Caldas da Rainha.”. Nesse momento a minha irmã começa a chorar, visto que a universidade das Caldas era uma das últimas opções. Aquilo em que pensei logo não foi: “Oh Meu Deus a minha irmã está a chorar” ou “Graças a Deus, vou deixar de a aturar.” Nem mesmo até “Será que posso ficar com o quarto dela?”. Não. A única coisa que me passou pela cabeça naquele momento foi: “O que é que vou fazer sem ela cá?”. Eu nunca estive sem a minha irmã em casa. E em segundos, de NUNCA passou a  4 anos.
            Outra coisa relacionada com a universidade aconteceu este ano. No final do ano em 2012 iniciaram-se os ensaios para um musical nesta mesma escola. Decerto que alguns de vós viram o musical, e possivelmente devem ter reparado como no final todos os alunos que se encontravam no palco estavam unidos e chegados. Mas nem sempre foi assim. Quando eu cheguei aos ensaios não conhecia quase ninguém. Pelo menos os alunos de 12ºano. Mas o tempo passou e amizades foram-se criando. Quando dei por mim, as conversas não se tinham unicamente nos ensaios mas sim nos intervalos e até fora da escola. Criei amizades que nunca pensei vir a ter e apercebi-me que pessoas que conhecia à meses me apoiavam e ajudavam mais do que pessoas que conhecia desde os 3 ou 8 anos! E depois veio o verão. Festas da cidade, jantares, festa, convívio. Tudo passou a correr e quando dei por mim a escola tinha começado de novo. Estava tudo igual, exceto uma pequena coisa. Mas aí é que está. Pequena para vocês mas enorme para mim. Essas pessoas que passei a adorar profundamente, que me apoiavam, que me ajudavam… Aquelas pessoas que estavam sempre na biblioteca à minha espera, não estavam cá. Foram para a universidade. E mais uma vez um vazio ficou para trás. Eu sei que os vejo quase todos os fins-de-semana. Eu sei que há skype, facebook e twitter. Eu sei que eles vão estar cá sempre! para me apoiarem. Eu sei. Eu sei! Mas o meu coração não sabe, e por isso mesmo tortura-me com a saudade e com as memórias e recordações que ficaram para trás. Tortura-me até eu não aguentar mais, até gritar EU DESISTO e cair para o chão a chorar e a pensar que nada vai ser como dantes. NADA vai ser igual. Por mais que tente. Mas não fica só por aí. Não desiste de me torturar. Não até me lembrar que para o ano, outras pessoas com quem me dou desde sempre vão para a universidade. E mais uma vez vou ficar sozinha. A recordar. A ter saudade.
Saudade. Tenho saudades de outras coisas. De outras pessoas. Dia 17 deste mês faz 2 anos que o meu avô morreu. Uma das coisas que me arrependo profundamente é de nunca ter passado muito tempo com ele. De nunca o ter conhecido tão bem quanto queria. Ele morava na Costa da Caparica e não o via muitas vezes. E sempre que ia lá estava com as minhas primas ou a ver televisão. Mas nunca a falar com os meus avós. E é agora que me arrependo. Depois de o perder, arrependo-me de nunca ter falado “a sério” com ele. E agora já não há volta a dar. Dói. Mas aprendi a lidar com a dor, e mais uma vez, com a saudade.
Tive saudades da minha irmã. Tenho saudades do tempo em que não me preocupava com o que vestia, em que podia ser original. Tenho saudades em que o monstro que vivia no meu roupeiro era um simples boneco que não gostava e não uma sombra daquilo que nunca quero vir a ser. Tenho saudades do meu avô. Tenho saudades dos meus avós.  Tenho saudades de amigos meus que estão na universidade. Terei saudades de quem for para a universidade antes de mim. Terei saudades das pessoas que vou deixar de ver diariamente no futuro. Terei saudades das pessoas que irei perder ao longo dos anos. Terei saudades de ser criança. Já as tenho. Terei saudades de quando tudo era fácil. Terei saudades de mil e uma coisas!

Saudade. Nunca gostei muito desta palavra. Nunca gostei daquilo que sinto quando penso nela. Todas as memórias, todas as recordações a ela ligadas são dolorosas e quase insuportáveis. Mas é assim a vida. Muita gente diz que a vida humana é definida pela paixão, felicidade e tristeza. Eu digo que não é verdade. A única coisa que nos lembre que vivemos, a única coisa que nos lembra o porquê de termos sido felizes ou infelizes, amados ou odiados. A única palavra que me lembra quem sou. É esta. Saudade.”

Mariana Amaro nº18 12ºC

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